Vocação é um tema que polariza a reflexão e a prática pastoral da Igreja Católica no Brasil durante o mês de agosto: “mês vocacional”. As comunidades cristãs se envolvem de algum modo na Pastoral Vocacional com orações e reflexões. Principalmente os jovens. Ilumina-se ainda mais o sentido humanitário das profissões exercidas pelos cristãos na sociedade. Isso já é uma inestimável contribuição à consciência social sobre o valor da vida como serviço aos irmãos.
Acredito que Vocação é outra palavra para se dizer: felicidade. Toda pessoa é vocacionada a ver assim a sua vida: descobrir como ser feliz nela. Na Bíblia vocacionar é chamar. Uma chamada à espera de resposta. Uma chamada nominal. O nome individualiza e distingue.
O nome torna alguém insubstituível como tal perante os outros. Fomos chamados e temos um nome. A primeira vocação é a existencial ou o chamado a viver. É pessoal e é comum. Eis aí o primeiro direito inalienável e irrevogável, a começar da concepção do feto no seio da mãe. Implica os demais direitos inerentes ao pleno desenvolvimento e à plena dignidade humana de qualquer pessoa: saúde, educação, comunhão em todos os bens da cultura.
Toda pessoa é propensa a estar ciente do dom que é a sua vida. Percebe que precisa dar a ela um sentido único e pessoal. Descortina inúmeras possibilidades. Torna-se infinito o horizonte da existência terrena. A vida não é só a realidade física, biológica e orgânica. Ë vida acolhida, pensada e. produzida numa experiência pessoal irrenunciável e irrepetível. É a descoberta de si no crescimento, nas tendências e habilidades em servir. Ser útil. Por isso é triste ver alguém alienado, alheio, fechado em si e omisso quanto à responsabilidade em viver.
E em construir de modo racional o seu “ser vivente com os outros”. Alienar-se é cair num estado vegetativo ou ilusório. Tantas serão as frustrações e ilusões quantas as fugas e omissões! Um poeta brasileiro definiu num só versinho o que é viver em ilusões:
“Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu/ Quem não sentiu o frio da desgraça/ Quem passou pela vida e não sofreu/ Foi espectro de homem não foi homem/ Só passou pela vida, não viveu” (Francisco Otaviano).
Outra fuga absurda é a revolta de quem diz “eu não pedi para nascer”. A afirmação não é só ignorância. Revela uma personalidade alienada, inconsciente do seu valor maior: a vida!
No íntimo do ser humano a vocação é resposta ao impulso interior, que faz alguém sair de si para se encontrar nos outros. Aí está, digamos assim, o DNA da sua felicidade. Este é o caminho e é a aventura que nos realizam como pessoas. Não é coisa fácil nem “branca nuvem” nem a ilusão de: “a gente vai levando essa vida”. Curtir pode ser moda. Mas é o gatilho que dispara o consumismo inconseqüente, além da preguiça institucionalizada.
A despreocupação com o amanhã ou com as dificuldades, apenas mascara a incompetência de lutar, de ser bom, de ser responsável. Enfim, de querer vencer! A propaganda seduz, mas não cria o sucesso. Ela tem um vício insanável: o dinheiro antes de tudo! Este jamais será garantia de felicidade vocacional.
Em si mesma a vida é uma questão da fé!
Pe. Antônio Clayton Sant´anna, C.SS.R Revista de Aparecida