Por que rezar pelas vocações? Para responder a esta pergunta, quero primeiramente tentar explanar o tema da oração. Logo quando pensamos em rezar nos vem à mente alguma prática piedosa de contato com o Transcendente. Alguma novena, algum terço ou outras maneiras de aproximarmo-nos de Deus. Acredito que tudo seja válido. No entanto, a oração é mais que isto. Os santos muito nos inspiram e ajudam a compreender o que é a oração, já que fizeram verdadeiras experiências de vida oracional. A Doutora da Igreja, Terezinha do Menino Jesus, nos indica que a “oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”. Já para João Damasceno a oração “é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes”. Santo Agostinho nos ajuda neste tema da oração lembrando que “é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede dele”. Ainda mais contemporânea, Chiara Lubich (Fundadora do Movimento dos Focolares) nos insere na realidade da oração indicando “que é diálogo, comunhão, relação intensa de amizade… é escolher Deus como único ideal, como o tudo de nossa vida… é dizer-lhe sinceramente: ‘Meu Deus e meu tudo’; ‘Eu te amo’; ‘Sou inteiramente teu, inteiramente tua’; ‘És Deus, és meu Deus, o nosso Deus de amor infinito!’” Como vimos, rezar é estabelecer o diálogo sincero. É estar-permanecer-ficar com Deus, assim como se tem vontade de estar com um amigo. Deus é o amigo da humanidade que se compadece, olha com a misericórdia, elevando-nos e indicando a contemplarmos a Sua Vontade. Se chegamos (com a ajuda das testemunhas do Reino que já contemplaram a face do Cristo, Bom Pastor, Amigo da humanidade) a conclusão de que a oração é o diálogo que mais agrada a Deus, pois nos lança na experiência manifestarmos nossa confiança Nele através de nossos pedidos, de exaltá-Lo pela nossa gratidão e de louvar-reverenciar Aquele que revelou a alegria de conviver e partilhar uma experiência que se estende ao mundo inteiro, pois é pautada na liberdade de abandonar-se e entregar-se unicamente ao nosso Amor Indivisível, então somos convidados a cultivar esta relação que fomos chamados a viver. No Evangelho de São Mateus, no capítulo 9, versículos 36-38 nos indica o seguinte texto: “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!” Jesus vê a realidade do povo, é movido interiormente pela situação e nos faz um apelo: “Pedi, pois, ao Senhor da colheita…”. Quem ao pedido de um amigo (muito caro) não se colocaria à disposição? Ainda mais sendo algo que podemos (não nos custa) fazer? Se compreendemos a oração como amizade com Deus e este amigo nos faz um pedido, então, mais do que nunca devemos estar atento a corresponder com esta ação de petição. Aqui já teríamos razão suficiente para fazer de nossa vida uma existência voltada para este pedido do Amigo da Humanidade. Rezar pelas vocações (pelos que virão, pelos que estão respondendo e pelos que já responderam). Além disso, como não somos inertes no mundo, percebemos a plena realidade que nos circunda. Mediante a tantos apelos que nos provocam reconhecemos que nosso povo ainda “caminha como ovelhas sem pastor” (Mc 6,30) e que sedento busca a “fonte de água viva” (Jo 4,10). Hoje temos pessoas que avaliando e percebendo o testemunho que quem já provou desta água também quer experimentar “a água que se tornou dentro dele (vocacionado) fonte que jorra para a vida eterna” (Jo 4, 14), pois a vida se transforma, toma nova dimensão, novo caminho, novo rumo. Encontramos a via: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), e nos aproximamos daquele que é o modelo no seguimento. Configuramo-nos a Ele, queremos ser e viver Nele. Meditante a necessidade de mais pessoas autênticas em viver a proposta do Reino, pessoas que sejam capazes testemunhar a Vida, de entregar e configura-se, anunciando o “Novo Céu e a nova Terra” (Ap 21,1), é que rezamos pedindo pelas vocações. Lembrando que o Batismo nos abre para a proposta vocacional, pedimos por todos, para que nossa Igreja seja mais comprometida. Para que nossas comunidades sejam um reflexo do Amor de Deus. Para que o mundo seja uma fonte de esperança. E, para que, sejamos abertos, disponíveis e prontos na nossa resposta generosa ao diálogo de Amor que Deus estabelece com o ser humano, pois a vocação é justamente este diálogo. Assim, a necessidade de se rezar pelas vocações é um cumprimento evangélico e um olhar atento à realidade. “Amigo da Humanidade, vós sois o Cristo, o Bom Pastor! Tomai-nos ao vosso serviço, nós que vimos a verdadeira luz” (CD Luz da Luz – faixa 16 – Frei José Moacyr Cadenassi). Que Jesus seja nossa inspiração para pedirmos ao Pai pessoas que estejam dispostas a assumir o Reino com sua vida, pois “a messe é grande e os trabalhadores são poucos”.
Pe. Valdecir Ferreira – Assessor na CNBB para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada